Por diferentes razões, e todas igualmente válidas, Jon Luz e Maria Alice são dois autênticos tesouros vivos da cultura de Cabo Verde e duas referências incontornáveis da morna, a canção de doce e melancólico balanço que se viu distinguida como Património Imaterial da Humanidade pela Unesco.
Jon, alma e cérebro do Tejo Bar, o recanto por onde passaram figuras importantes da cultura nacional e que é um dos mais acarinhados espaços culturais semi-secretos da capital portuguesa. Músico multi-instrumentista, compositor e produtor, Jon chegou a Lisboa em 1998 por via da dança contemporânea, integrado num espectáculo da coreógrafa Clara Andermatt, e por aí ficou, integrando-se rapidamente na vibrante cena musical nocturna, alinhando energias com artistas como Maria Alice, Ildo Lobo, Titina ou Lura e Tito Paris, com quem colaborou em diferentes ocasiões e contextos.
Foi Jon a inspiração para a criação da MAR – Melides Art Records – e quando Miguel Carvalho o conheceu não teve dúvidas de que seria importante traduzir o seu enorme talento para um disco, já que Faarope d’Poesia, o seu único registo, datava já de 2006. Mas este criador, que escreveu para Cesária Évora e Nancy Vieira e que conhece intimamente os mais fundos segredos da música, tem muito mais ideias dentro de si. E o novo disco que acaba de criar com a veteraníssima Maria Alice é apenas mais uma prova disso mesmo.
No estranho período pandémico que atravessamos, Jon Luz teve a oportunidade de se recolher em Melides, onde um estúdio foi construído seguindo as suas rigorosas especificações, um espaço pensado para que o artista cabo-verdiano pudesse experimentar, colocar em prática as suas ideias e aplicar a sua considerável experiência, ele que entende como poucos e de forma profunda as dinâmicas da criação musical.
Com Maria Alice ao seu lado a dar voz a um conjunto de mornas que, além de um par de clássicos incontestáveis de Paulinho Vieira ou B. Leza incluem ainda uma mão cheia de originais que ele mesmo vestiu com o requinte da sua imaginação, assegurando a maior parte dos instrumentos que os seus criativos arranjos pediam, Jon Luz está definitivamente pronto para uma nova fase na sua carreira. Plantado criativamente no meio do Atlântico, Luz parte da sofisticada tradição de Cabo Verde, mas estende o olhar ao igualmente doce balanço do Brasil, entende as complexas nuances do jazz e embrulha tudo numa classe absolutamente intemporal, tão vintade no seu rigor acústico como moderna na sua intenção inovadora.
Sobre Maria Alice, Jon Luz, habitualmente poupado no discurso, não se contém: “Ela é poderosa”, explica-nos, “um verdadeiro portento. Mas na história da música de Cabo Verde não há assim tantos exemplos deste tipo de encontros, entre um artista homem e uma artista mulher, em que ambos partilhem uma mesma posição”. Luz conclui: “enche-me de orgulho que a Maria Alice tenha aceite fazer essa viagem comigo”. Um músico pode sempre descrever um disco como um “retrato”, uma “história”, mas não deixa de ser revelador que um espírito irrequieto como o de Luz prefira a expressão “viagem”: “Neste projecto meti todo o Cabo Verde possível. Tanto no dedo como no coração”, explica-nos, “e claro que também mergulhei nessa contemporaneidade toda que atravessa essa Lisboa. O resultado é muito orgânico, muito sentido, traduz-se em canções com entrega, com tempo”. Todas as viagens exigem tempo. E coração, pois claro. Jon Luz tem ambos de sobra. E isso vai-se agora escutar, neste encontro com Maria Alice que volta a colocar Cabo Verde no mundo. E no futuro.
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Anaïs Vachier
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anais@alainvachier.com
For different reasons, and all equally valid, Jon Luz and Maria Alice are two authentic living treasures of Cape Verdean culture and two unavoidable references to the morna, the sweet and melancholy balance song that was distinguished as Intangible Heritage of Humanity by Unesco.
Jon, soul and brain of the Tejo Bar, the place where important celebrities of national culture have passed through and which is one of the most cherished semi-secret cultural spaces in the Portuguese capital, Lisbon. Multi-instrumentalist musician, composer and producer, Jon arrived in Lisbon in 1998 through contemporary dance, as part of a show by choreographer Clara Andermatt, quickly integrating into the vibrant night music scene, aligning energies with artists such as Maria Alice, Ildo Lobo, Titina or Lura and Tito Paris, with whom he collaborated on different occasions and contexts.
Jon was the inspiration for the creation of MAR – Melides Art Records – and when Miguel Carvalho met him he had no doubts that it would be important to translate his enormous talent into a record, since Faarope d'Poesia, his only record, dated back to de 2006. But this creator, who wrote for Cesária Évora and Nancy Vieira and who knows intimately the deepest secrets of music, has many more ideas inside him. And the new album he has just created with the veteran Maria Alice is just one more proof of that. In the strange pandemic period we are going through, Jon Luz had the opportunity to retreat to Melides, where a studio was built following his strict specifications, a space designed for the Cape Verdean artist to experiment, put into practice his ideas and apply his considerable experience, he who understands like few others and in a profound way the dynamics of musical creation.
With Maria Alice at his side, giving voice to a set of mornas that, in addition to a pair of undisputed classics by Paulinho Vieira or B. Leza, also include a handful of originals that he wore with the refinement of his imagination, ensuring the most of the instruments that his creative arrangements called for, Jon Luz is definitely ready for a new phase in his career. Creatively planted in the middle of the Atlantic, Luz departs from Cape Verde's sophisticated tradition, but extends its gaze to the equally sweet balance of Brazil, understands the complex nuances of jazz and wraps everything in an absolutely timeless class, as vivid in its acoustic rigor as it is modern in the its innovative intention. About Maria Alice, Jon Luz, usually spared in his speech, cannot contain himself: “She is powerful”, he explains to us, “a real wonder. But in the history of Cape Verdean music there are not so many examples of this type of encounter, between a male artist and a female artist, in which both share the same position”. Luz concludes: “It fills me with pride that Maria Alice has agreed to take this trip with me”.
A musician can always describe a record as a “portrait”, a “history”, but it is still revealing that a restless spirit like Luz's prefers the expression “trip”: “In this project I got as much of Cape Verde as possible. Both in the finger and in the heart”, he explains, “and of course I also immersed myself in all that contemporaneity that crosses this Lisbon. The result is very organic, very meaningful, it translates into songs with delivery, with time”. All travel takes time. And heart, of course. Jon Luz has both to spare. And that will be heard now, in this meeting with Maria Alice who brings Cape Verde back to the world. And in the future.